Uma dia, normal, como todos os outros, o sol brilhava, as nuvens passavam, os pássaros cantavam, até que te vi, no banco comprido de jardim, e decidi andar na tua direcção. Cada segundo passado a olhar para ti permitia-me ver mais coisas que me interessaram em ti, continuei a andar em direcção a ti e a admirar-te, não sei se foi por me perder em ti, mas não reparei se me reparaste. Sento-me ao teu lado direito e reparo que tens a mão direita sobre o banco, sei que me olhas embora eu esteja a olhar ligeiramente para a direita, enquanto sei que me olhas, olho ligeiramente na tua direcção e fecho os olhos por uns segundos e embora eu não esteja a olhar eu sei que tu continuas a olhar, sinto vontade de abrir os olhos e beijar-te, mas mantenho os olhos fechados e inspiro calmamente e expiro calmamente e mando um sorriso breve. Decido abrir os olhos, continuo a olhar em frente mas, reparo que, um pouco desajeitadamente, voltas a olhar em frente, e depois para a esquerda, como se tivesse sido descoberto a roubar doces de uma loja. Sinto a leve brisa a passar-me no braço esquerdo que está sobre o banco, ao pé do teu braço direito, a minha mão começa a levantar-se leve e suavemente, e sinto os meus dedos a escalarem a tua mão, sinto o calor da mão, o quente e reconfortante calor da mão. Sinto o meu indicador a fazer festas suaves e pequenas sobre a tua mão, olho para baixo e sorrio, como se tivesse acabado de chegar a casa, continuo a olhar em frente e de repente levanto-me porque reparei que ias dizer algo. Enquanto continuo a afastar-me do banco de jardim o sol continuava a brilhar, as nuvens continuavam a passar, e os pássaros continuavam a cantar, até que decido olhar para trás e, lá estavas tu, no banco de jardim, mas desta vez, a olhar para mim.
O que são olhares não trocados?