quinta-feira, 21 de julho de 2016

Poder

Por vezes esquecemo-nos do poder que temos. 
Cada indivíduo tem poder, as suas acções influenciam não só a sua própria vida, mas todo o Universo à sua volta.Uma brisa inofensiva pode levar-nos a espirrar, causando um susto a uma borboleta que está a passar por acaso, mudando esta de direcção, atingindo um ciclista que está a passar, fazendo com que este colida com um senhor que está a passar com caixas de mercearias, mercearias estas que caiem e fazem com que uma criança escorregue nelas, caia na estrada e cause um acidente de carro. Não nos podemos esquecer do nosso poder, ou melhor, do nosso potencial, pois uma simples acção inocente, um reflexo de um estímulo exterior pode ter a reacção, ou cadeia de, mais desumanamente complexa e distorcida. Portanto, após termos noção do nosso potencial, temos de ter respeito sobre ele, talvez algum receio até não seja mau visto pois quando temos receio, medo, é sinal que temos algo a perder. Depois de conquistar a honra do nosso potencial, temos que domá-lo todos os dias para que todos os dias seja possível termos noção, respeito, e acima de tudo, merecer a honra do nosso potencial intrínseco e para além do mais, temos que nos domar a nós pois acima de tudo somos humanos, defeituosos e sempre esperançosos. É essa a nossa natureza, nas maiores adversidades, acreditar que vai tudo ficar bem, no final pode não ser o que queremos, mas mais tarde percebemos que afinal tudo tem uma razão. Pegando num cliché(ou melhor, em mais um processem-me), dizem que com grande poder vem grande responsabilidade, está na altura então de domar, honrar, respeitar e ter noção de nós mesmos. A partir de que momento então é necessário ter noção de nós mesmos?

A partir do momento em que causamos reacções

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A MARca


Todos nós amamos, é-nos inato, está-nos no ser, enraizado até ao mais profundo, ao cerne, do nosso ser. Há quem diga que amar é dar o melhor de nós a outro, e vice-versa, no entanto, eu não acredito nisso, há que mostrar o bom e o mau. Há dias em que sinto marcado, sujo, porco. Como se tivesse uma camada de sujidade por cima de mim, uma mescla de ranho verde viscoso com petróleo que agarra à pele e não larga, e que por mais que eu me lave o meu corpo continua a excretar essa mescla verde e preta, com cheiro a podridão que se entranha nas narinas e faz a pessoa à minha frente vomitar, adicionando mais uma camada de cores, texturas e cheiros, nojentos. Como é possível algo tão feio amar, quanto mais ser amado quando está assim tão marcado?

Amar não é difícil, permitirmo-nos a, é.


E eu, permito-me.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Mais que bem

(A e B num bar de uma discoteca) 
A: Olá, como estás?
B: Bem - recebe a sua bebida - obrigado, e tu, como estás, que fazes por cá?
A recebe a sua bebida.
A: Bem também, vim espairecer um pouco, num local fechado. - B ri - Posso fazer-te uma pergunta um pouco fora do normal?
B dá um trago da sua bebida.
B: Claro, força.
A olha para baixo e esboça um sorriso envergonhado, olha para cima e encara B que tem nos seus lábios um sorriso suave e honesto, tão genuíno como o sorriso dos seus olhos.
A: Como funciona realmente o "jogo" do cruising/engate? - B faz uma cara de confuso - Não percebo, uma pessoa simplesmente diz "vamos?" ou chega ao pé dela e beija-a, olha primeiro e depois beija-a, mete conversa.. podes explicar-me?
B semicerra os olhos, rasga um sorriso, pisca os olhos, aproxima-se do ouvido de A e diz.
B: Está um pouco barulhento aqui, queres ir para outro sitio ter esta conversa?
A concorda, os dois saem da discoteca e dirigem-se para o eléctrico.
B: Sinceramente, acho que cada um tem a sua abordagem, embora o propósito seja o mesmo.
A: Pois, o foco realmente costuma ser o mesmo, mas, acho que como o meu foco não é o mesmo, não sei realmente o que fazer para lá chegar.
B: Tudo depende de onde queres realmente chegar.
A e B chegam à estação.
B: Tens bilhete?
A: Sim sim, entra.
A e B entram no eléctrico.
A: Para onde vamos?
B: Quando for para sair eu aviso. Voltando ao assunto, não te preocupes muito com isso, para além do mais não precisas de nenhuma técnica para chamar a atenção.
B sorri de lado para AA rasga um sorriso e olha para baixo.
A: Ainda bem... //que chamei a tua atenção.//
Durante a viagem de eléctrico A olha pela janela, enquanto absorve o que observa, a cidade, a arquitectura, as pessoas que passam, os barulhos da cidade, ao aperceber-se que está fora de si olha para B que está a sorrir, A nunca vira um sorriso assim, simpático, gentil, quente, enquanto seus olhos sobem apercebe-se que B esteve a observá-lo, pois B olhava-o fixamente, nos olhos, ambos não conseguem descolar um do outro, até que um solavanco do eléctrico faz A perder o equilíbrio, e começa a cair lentamente até que B apanha-o.
B: Cuidado, estás bem?
A: Contigo estou mais que bem.
Os dois sorriem, e o eléctrico pára.
B: Vamos, saímos aqui.
A e B saem do eléctrico, A olha em volta e vê um parque com tantas árvores, que impedem de ver o que está atrás delas.
A: Para onde vamos?
B: Terminar a nossa conversa. 
À medida que A e B vagueiam pela floresta dão com um lago que nele está uma coluna de luz do reflexo da lua cheia que ilumina o parque, à beira do lago encontram uma mesa e uns bancos de madeira onde decidem sentar.
B: Então pela viagem deu para perceber que não és de cá, certo? Que fazes por cá na cidade?
A: Certo, estou cá de férias, sozinho.
B: Porquê sozinho?
A: Proporcionou-se, e também preciso de me encontrar, sinto-me um pouco perdido.
B: E já te encontraste?
A: Estou no caminho.. - e sorri.
B: Fico contente por te ter encontrado.. - pisca os olhos e sorri.
A: Importas-te que fume?
B: Força, eu vou fazer um também.
À medida que A e B enrolam um cigarro a conversa desenrola-se.
A: E tu, que fazes por cá?
B: Na discoteca estava à procura de algo que não estivesse à espera, acho que é seguro dizer que tal coisa aconteceu - vira-se para A e sorri - sou de cá mesmo.
A: Tens lume?
B: Tenho.
B ainda estava a enrolar e com os conteúdos na mão esquerda, pega no isqueiro com a mão direita, vira-se para A e estende a mão, A estende a sua mão e ao tocar no isqueiro sem querer deixa-o cair, com o reflexo de apanhar o isqueiro estende a mão e B acaba por apanhar o isqueiro com as pernas.
A: Desculpa.
B: Não faz mal, força, podes tirar.
A paralisa, olha para o isqueiro, olha para B com algum embaraço, até que B pega no isqueiro e dá a A.
A: Errrr, obrigado, não me leves a mal, mas, não estou habituado.
B: Habituado a?
A: Interações com estranhos, engraçados e giros, muito menos a flirts.
B: Então é bom que te habitues a flirts da minha parte.
A rasga um sorriso tímido, acende o isqueiro, aproxima-se para acender o seu cigarro e B aproxima-se da chama para acender o seu cigarro também, A repara e olha fixamente nos olhos de B, enquanto este estava fixado em AA perde-se na cor dos olhos de B, um verde marinho exótico, algo como nunca vira antes.
B: Uau, os teus olhos, são tão fora do normal, castanhos e verdes, não consigo parar de me perder neles.
A: Eu ainda estou perdido nos teus.
A apaga o isqueiro e devolve-o a B, os dois dão um bafo, olhos nos olhos, descolam para olharem para o reflexo da lua e soltam ambos o fumo.
B: Não tenhas medo da reacção dos flirts, reage apenas, faz o que te for natural, pois foi isso que me chamou a atenção no café esta tarde quando te vi.
A fica surpreso.
A: Quer dizer que..
B: Que reparei que olhaste para mim, mas quando fui olhar tu escondeste o teu olhar, sim reparei, foi giro confesso, esse teu jeito, sem jeito. - B sorri e olha para cima - Não estava mesmo à espera de te voltar a encontrar, muito menos tão cedo.
A: Nem eu, ao que parece é como dizem mesmo, quando menos se espera...
O telefone de B toca, uma música calma, compassada, melódica, após B barrar a chamada A diz.
A: Podes por essa música a tocar?
B: Claro. - e esboça um sorriso.
A levanta-se e começa a rodopiar lentamente, ao ritmo da música, com os braços estendidos, B apercebe-se, aproxima-se de A, estende a mão direita e pergunta
B: Dás-me esta dança?
A fica surpreendido, rasga um sorriso, e com a cabeça acena, a mão esquerda de A entrelaça-se na mão direita de B, aproximam-se, A põe a sua mão direita no peito de B, enquanto B põe a sua mão esquerda na cintura da A e os dois dançam, devagar e calmamente, sempre fixados nos olhos um do outro.
A suspira
B: Está tudo bem?
A: Já disse e volto a dizer, contigo, estou mais que bem.
Os dois sorriem e continuam a dançar, até que a música pára, embora a dança continue, as mãos continuam coladas, os olhares continuam fixos, ambos começam a ir em frente, um contra o outro, numa rota de colisão lenta e ardente, ambos fecham os olhos e beijam-se, sente-se o desejo dos dois enquanto as mãos passeiam livremente pela cara, pescoço, torso um do outro, ao separarem-se abrem os olhos reparam que o parque está agora mais iluminado, com inúmeras luzinhas pequenas.
A: São...
B: Pirilampos.
A com o seu maior sorriso olha para B, este vira-se para A e sorri, com o seu sorriso genuíno, calmo e caloroso e voltam a beijar-se.
Após passarem o resto da noite no banco de jardim o céu começa a mudar de cores, está a amanhecer, e com o novo dia vêm novas possibilidades.
B: Vamos embora?
A: Sim, tenho que arrumar as minhas coisas.
A e B começam a sair do parque em direcção à paragem do eléctrico
B: Como assim arrumar as tuas coisas?
A: Hoje é o meu ultimo dia por cá, o meu avião parte hoje.
B: ...é pena, é uma grande pena não te ter encontrado mais cedo...
A e B caminham em silêncio até à paragem e ao chegarem apercebem-se que têm de apanhar eléctricos diferentes.
B: Parece que o teu eléctrico vem primeiro.
A: Pois, parece que sim.. - e olha para baixo, cabisbaixo.
B com a sua mão direita encosta-a na cara de A, levanta-a e beijam-se novamente.
B: Ao menos vais com uma boa lembrança.
A: Não tenhas dúvidas disso.
O eléctrico de A chega, A sobe para o eléctrico, olha fixamente para B,  B olha fixamente para A, os dois, olhos nos olhos, e o sinal que a porta vai fechar toca, despoletando uma questão importante em A, que durante a noite toda, não lhe perguntou o nome, à medida que as portas fecham A diz.
A: Como te chamas mesmo?
B abre a boca, só para o som do seu nome ser abafado pelo barulho da porta a fechar e do chiar das rodas do eléctrico, A põe a sua mão sob o vidro com cara de pânico, B põe a sua mão na parte de fora da porta, sorri e acena com a cabeça como se dissesse, "não faz mal, está tudo bem", e o eléctrico parte, separando-os daquilo que podia ser, mas não irá ser.
À medida que o eléctrico percorre a cidade, A olha para baixo, fecha os olhos, esboça um sorriso até que uma gota cai no chão do eléctrico, por baixo do queixo de A.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

24/02/2014 @12:07

"Adeus a ti, com o teu sorriso tímido, simpático e caloroso, espero nunca esquecer esse sorriso, embora seja improvável voltar a vê-lo, adeus a ti, que nunca te conheci"
pois ainda não esqueci, tu, que me marcaste, assim...

sábado, 7 de junho de 2014

Fantasias

Tenho tendência a perder-me em fantasias, em sair do frio real e entrar no calor imaginário, onde a minha cabeça dita os acontecimentos, as acções, as palavras, e as ilusões. Dou por mim a andar na rua, embora no meu mundo esteja num sítio diferente, com pessoas diferentes, é Outono, está um sol tímido e uma aragem que traz consigo o cheiro quente de castanha assada. Até que pestanejo, tropeço e começo a cair como se me puxassem um tapete debaixo dos meus pés, até que de repente sinto um calor na minha mão esquerda e logo a seguir sinto esta a ser puxada por outra mão de forma a não cair. À medida que me puxas para cima para não cair, puxas-me para perto de ti, e eu, inconscientemente, vou ao teu encontro, até que a minha mão direita aterra no teu peito e a tua mão esquerda segura-me pela cintura enquanto os dedos da tua mão direita entrelaçam-se com os meus da minha mão esquerda. Consigo sentir cada malha do teu casaco, suave, caloroso e aconchegante, como tu. Ao recuperar o equilíbrio o vento começa a soprar, franzo os olhos enquanto te subo ao encontro dos teus olhos, quando se cruzam, por instinto e quase em uníssono sorrimos, triangulamo-nos, pestanejamos, aproximamos, beijamos à medida que as folhas de Outono seguem lentamente a sua marcha em direcção ao solo, e por fim, abraçamos.
...and you may not think that I care for you   
when you know down inside that I really do...