Todos nós amamos, é-nos
inato, está-nos no ser, enraizado até ao mais profundo, ao cerne, do nosso ser.
Há quem diga que amar é dar o melhor de nós a outro, e vice-versa, no entanto,
eu não acredito nisso, há que mostrar o bom e o mau. Há dias em que sinto
marcado, sujo, porco. Como se tivesse uma camada de sujidade por cima de mim,
uma mescla de ranho verde viscoso com petróleo que agarra à pele e não larga, e
que por mais que eu me lave o meu corpo continua a excretar essa mescla verde e
preta, com cheiro a podridão que se entranha nas narinas e faz a pessoa à minha
frente vomitar, adicionando mais uma camada de cores, texturas e cheiros,
nojentos. Como é possível algo tão feio amar, quanto mais ser amado quando está
assim tão marcado?
Amar não é difícil, permitirmo-nos
a, é.
E eu, permito-me.